2023

C.S Lewis e o conhecimento, empirismo ou autoridade ?

Na nossa pesquisa pelo reconhecimento da realidade utilizamos primordialmente os nossos sentidos como dispositivos vocacionados para a obtenção de informação sobre o mundo que nos rodeia. A isto chamamos empirismo, uma corrente filosófica que sublinha o papel da evidência no processo de criação do conhecimento. Não desmerecendo este processo, que parece vital na organização psíquica do individuo, outros dispositivos podem ser postos em prática no reconhecimento da realidade, nomeadamente: o uso da razão, da intuição, da espiritualidade e da autoridade.

A desmoralização e a urgência da pedagogia da esperança

Há sentimentos sociais que se evidenciam e tornam mais exuberantes em determinadas épocas e face a determinadas circunstâncias. Estes sentimentos evidenciam-se através de atitudes, símbolos, cognições e comportamentos que se disseminam através de um processo de contágio social. Na génese deste processo está o processamento de informações do nosso contexto que providencia uma moldura emocional para a nossa apreensão da realidade sendo este fenómeno objeto de interpretação no nível social e no nível individual.

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2022

A infantilidade psicológica no símbolo de Peter Pan

Nas crianças encontramos personificada a ideia de potencial. Podemos pensar nas crianças como um livro aberto com várias páginas em branco ainda por escrever apesar da introdução, isto é a genética, já estar escrita. Esta ideia de potencial produz a ideia de possibilidade virtual, sendo esta uma ideia particularmente sedutora em termos narcísicos como veículo para o engrandecimento do ego quando nutrida no adulto. Isto significa que não tomando decisões, não chamando a nós a responsabilidade pelas mesmas podemos continuar o nosso percurso de vida sem realizar um derradeiro teste às nossas capacidades e assim preservar a ideia de que “poderíamos” fazer/ser muito mais. Nestes casos o cálculo que fazemos parece ser o de que preferimos a fantasia e a hipótese por oposição à consciência mais concreta das limitações e ao sacrifício inerente à confrontação com os nossos medos.

A culpa: o diálogo entre o narcisismo e a conscenciosidade.

O sentimento de culpa é um sentimento que surge como subproduto da violação dos valores internos da própria pessoa por oposição à vergonha cuja tónica está na violação de normas culturais e sociais. A culpa e a vergonha ambos contemplam a inadequação como ponto central, há a perceção de que o indivíduo falhou em corresponder ao que está certo e ao que é bom. No caso da culpa, este sentimento convida à punição do ego pela violação de expetativas morais.

Responsabilidade como antídoto para o ressentimento.

Um dos melhores antídotos para o ressentimento e a mágoa, sentimentos tantas vezes destrutivos na nossa vida, é a responsabilidade. A toma da responsabilidade permite-nos analisar a nossa vida não apenas na perspetiva do observador mas também na perspetiva do ator, isto é, da pessoa que toma decisões e exerce ação sobre a realidade. Por responsabilidade entenda-se, a capacidade para chamar a nós mesmos o ónus da criação das circunstâncias em que vivemos através das decisões que tomamos. Desta forma, o mundo em que vivemos, as experiências e relações que temos, os sentimentos que nutrimos são nossa responsabilidade.

Pegar na cruz: A assunção da responsabilidade e fardo existencial.

24 Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.

25 Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.

26 Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?

Mateus 16:24-26

Rei Leão e o arquétipo da jornada do herói.

Durante o curso da nossa vida todos teremos alguma forma de confrontação como uma morte simbólica e subsequente renascimento. Uma parte de nós, da nossa personalidade, definhará perante o desafio de circunstâncias que abalam as fundações que são, no momento, edificantes e estruturantes da nossa realidade. Esta metamorfose é um requisito necessário para que aconteça algum tipo de crescimento psicológico verdadeiramente transformador. Seria incauto pensar que a vida de alguém pode mudar de forma decisiva e significativa sem que desse processo decorra uma forma de desafio vital. Neste desafio diria que está presente a confrontação com o medo, a consciencialização das nossas limitações e inevitavelmente a dor e sofrimento subsequentes ao processo.

O que é o amor ?

Muitos livros foram escritos sobre o tema oferecendo perspetivas líricas, narrativas, psicológicas/filosóficas, religiosas, simbólicas e políticas. A resposta varia no seu significado consoante o paradigma teórico de análise. Reconhecendo esta multiplicidade de dimensões do conceito qualquer reflexão será sempre, inevitavelmente parcial, no entanto cumpre realizar-se dado que a importância do tema o exige. Muito se tem dito e muito mais se dirá precisamente porque este é um tema que convida à expressão de uma profunda intimidade universal.

Dizer a verdade

Ser verdadeiro e dizer a verdade parece, num paradigma superficial de análise, algo exclusivo dos homens e mulheres imprudentes e ingénuos, talvez assim o seja porque a mentira se tornou uma norma e não uma exceção. Parece-nos fácil e por vezes até intuitivo mentir, creio que acima de tudo como uma forma de fintar o conflito e a assunção da responsabilidade pelas nossas escolhas. A mentira parece, no curto prazo, poupar-nos o desgaste que o conflito pode trazer e contribuir para a harmonia e uma espécie de paz. Escrevo uma espécie de paz porque esta paz adquirida pela mentira não parece ser algo sustentável e acima de tudo não está assente no pilar mais importante que é a verdade. Num horizonte temporal suficientemente amplo o caos que a mentira provoca irá sempre sobressair e assinalar a podridão da paz e harmonia construídas sobre a mentira. Tendo a mentira como pilar constroem-se identidades, personalidades, relações com os outros e relações com a realidade falsas. A falsificação destes aspetos conduz inevitavelmente ao caos onde impera a perda de significado e de rumo. Neste contexto Alfred Adler, um psicólogo Austríaco, cunhou o conceito de mentira de vida (life-lie). Este conceito refere-se à capacidade do indivíduo autorizar a organização de aspetos estruturantes da sua vida em torno de uma ou várias mentiras. Nesta organização caótica a pessoa rejeita responsabilidade para lutar pelos seus verdadeiros objetivos e legitima a sua falta de coragem autorizando a mentira. A verdade é vista como perigosa, portanto assustadora para o indivíduo.

O sacrifício certo

Para que se possa alcançar uma transformação significativa nas nossas vidas temos de estar dispostos ao perder de algo igualmente valioso, isto é, estruturante para nós. Temos de estar dispostos a deixar uma parte de nós “morrer” para que outra possa tomar o seu lugar. A título de exemplo, para que possamos evoluir em termos morais e éticos temos de deixar morrer uma certa imagem de virtude que previamente podia ocupar lugar de destaque na forma como percecionamos a nossa identidade. Se estivermos cegos ou ofuscados pela nossa virtude, dificilmente conseguiremos ver além da mesma, dificilmente conseguiremos reconhecer a nossa sombra. Tomando consciência da nossa perversidade e malevolência podemos corrigir e lutar por uma transformação que seja virtuosa na nossa vida.

Investigação da sombra

Carl Jung fala-nos do conceito de sombra como dimensão inalienável da personalidade, uma parte da nossa identidade que contempla o nosso poder de destruição. Segundo Jung quanto menos conscientes somos desta sombra maior é o seu poder destrutivo, ou seja, mais negra e densa se torna. Se um sentimento de inferioridade se torna consciente o indivíduo terá sempre oportunidades para corrigir esse sentimento, ao passo que se permanece no inconsciente pode perpetuar a sua influência e ampliar a sua intensidade. A sombra não integrada, ou seja não consciente, condena o Homem a repetir os erros do passado e perpetrar as atrocidades que caracterizam os atos mais sombrios de tirania.

Sinalização da virtude e ser-se virtuoso.

O problema começa pela definição de virtude, o que é virtude ? Podemos considerar a definição comumente aceite que determina a virtude como uma forma de excelência moral, isto é, uma qualidade excepcional e essencialmente boa. Como seres sociais usamos várias ferramentas para comunicar socialmente os nossos valores, características e personalidade. Podemos dizer que usamos a virtude nesta instância como um sinal social que nos identifica geralmente com algo que é considerado moralmente positivo e bom.

A linha ténue entre a realidade e a ficção.

A realidade tal como a conhecemos e concebemos parece por vezes um fenómeno que acontece, existe e manifesta a sua presença de forma independente do observador. Nesta linha argumentativa a realidade adere na sua génese a uma corrente filosófica denominada materialismo que tem na matéria o elemento formador da realidade e nos fenómenos materiais e físicos uma espécie de linguagem da realidade. Ouvimos, vemos, sentimos e cheiramos a realidade que, adotando uma perspectiva materialista, será parente próxima de uma verdade que consideramos objetiva.

Ideologia política e saúde mental

Frequentemente vejo nos media mensagens propaladas por “especialistas” defendendo ideologia política, no entanto escudando-se numa linguagem técnica que torna quase imperceptível o subtil endosso político.

Retrato de uma pessoa perigosa.

Todos fabricamos ideias sobre os outros criando expectativas e pretensas verdades que, por vezes, são em grande medida um reflexo do criador e não necessariamente uma imagem rigorosa do visado pela análise. É humano criar um modelo que nos permite antecipar o futuro e organizar o nosso mundo interior, inclusive permite reforçar as nossas crenças projetando as nossas expectativas. Nada mais natural que isso, esperar que o outro se encaixe no nosso complexo puzzle mental.

Carl Jung, o Homem e os seus símbolos.

Segundo Carl Jung, psiquiatra Suiço, o ser humano transporta consigo um tipo de mitologia de espécie, aquilo a que Jung chama de arquétipos. Este conceito diz respeito ás imagens primárias e instintivas que são universais na espécie humana.

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2021

A dificuldade de Kierkegaard

O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard diz-nos numa passagem da sua obra que o Homem tudo fez para tornar a sua vida mais fácil. Construiu caminhos de ferro, autocarros, barcos, o telégrafo e muitas outras invenções que tornaram a nossa existência neste planeta mais fácil. Em desespero e envergonhado por não conseguir tornar algo mais fácil do que já é, Kierkegaard descobre o seu lema. A sua missão seria então tornar as coisas mais difíceis, encontrar dificuldades em toda a parte. Porque teria este desígnio o filósofo ?

O Novo Normal

Uma frase que serve de epítome ao absolutismo moral e sanitário que vivemos no qual a sombra do autoritarismo já se faz notar de forma incidiente.

Fight Club

Um agente de seguros absolutamente aturdido pela monotonia e ausência de sentido da sua vida vê-se incapaz de dormir. A sua insónia cada vez mais debilitante leva-o a procurar ajuda profissional. Nesta busca por soluções o protagonista do filme descobre nos grupos de ajuda para doentes oncológicos um ambiente seguro para carpir uma dor que não sabe bem se é a sua. Ali encontra um embalo para a sua dor, permite-se sentir pena de si próprio e da sua vida, ainda que tudo seja uma fachada. Após esta experiência o protagonista permite-se dormir, contudo a sua inquietude contínua bem viva. É quando Marla Singer para reclamar como seu o conforto dos grupos terapêuticos, negoceia com o protagonista. Finalmente, para melhor gerirem o conflito, decidem negociar a presença nos grupos terapêuticos. É também nesta altura que o protagonista conhece Tyler Durden, fabricante de sabonetes, numa viagem de negócios. Esta personagem vem revolucionar por completo a vida do protagonista. Depois de um acidente que incendiou o seu apartamento o protagonista recorre a Tyler para pedir guarida. Assim têm o seu início uma série de desafios à sua existência e modo de viver ortodoxo.

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2020

Amor Vincit Omnia

Ele não anda, ele não fala, ele não sorri, ele fica parado a olhar o infinito. Parece estar à espera, mas de quê ? Pudesse eu trazer-lhe respostas e um sorriso até nos dias mais cinzentos. O que eu gostava que me olhasse, não aleatoriamente, que me olhasse como se tivesse um desejo oculto de me encontrar.

Motivação e emoção - A história da astúcia judaica

Um judeu, dono de uma loja algures em Berlim era constantemente assediado por um alemão enraivecido. Este alemão visitava a loja do judeu com o intuito de o insultar verbalmente, mandava-o para a sua terra e cantava-lhe impropérios.

A transcendência na autenticidade do eu

Hoje detive-me a ouvir uma história. O autor, o psiquiatra Jorge Bucay, contava-a como um adágio. Não lhe deu título, mas penso que lhe podemos chamar a história da transcendência de um aprendiz. Passo a contar o que ouvi. O aprendiz vislumbrara o seu mestre a chorar . Ao vê-lo num pranto, perguntou:

“Porque chorais mestre ? ”

Cão de Freud e a psicoterapia autêntica

Consta que o cão de Freud era presença assídua nas suas consultas. Certo dia um dos seus analisandos Sándor Ferenczi, um psiquiatra renomado, conta que a meio de uma consulta o cão se levantou e arranhou de forma veemente a porta. Sem hesitação Freud levantou-se e abriu a porta para o cão poder sair. Perto do final da consulta, ouvia-se novamente o cão a arranhar a porta do consultório, desta vez do lado de fora. Freud novamente levantou-se de imediato para abrir a porta ao seu fiel amigo. Aproveitando a deixa do canídeo Freud disse algo deste género: “está a ver, o cão estava tão aborrecido pela sua resistência que decidiu sair, mas agora ele está de volta para lhe dar uma segunda chance.”

Oráculo Probabilístico

Inês lançou um olhar furtivo apontado como uma lança à boca carnuda de Pedro. Por momentos parece que levitavam, suspensos no ar a entreolhar-se num impasse à espera de perceber quem quebrava primeiro o silêncio. Enquanto se amarravam em pensamentos proibidos para dois jovens castos sentiam palpitações, a ansiedade a que chamamos adrenalina.

Exeunt omnes

Da minha janela eu vejo a lua cheia e uma tela pintada a lápis lazuli. Vejo estrelas que parecem miragens. Vejo o reflexo da lua nas águas de um rio e ao perto uma árvore e depois a floresta. Deitado, enquanto me perco no infinito que o meu olhar alcança, penso.

Congresso Internacional do Medo

Todos os temas foram abolidos, sobram a angústia, a morte, a ansiedade, a tristeza e o medo. O decreto é fresquinho e desta manhã, 29 de Março de 2020.

Tudo por um sorriso

As horas sem dormir estão bem visíveis no rosto que afunda os olhos nas cavidades e no qual o bocejo é já pano de fundo. Transportamo-nos todos os dias com a força de mil comboios que nos puxam subitamente para algo bem maior que nós, que nos acalma e nos faz brilhar. Quem nos vê partir apressa-se a perguntar porquê ? Não nos fazemos rogados na resposta, respondemos com um sorriso que subtrai a mágoa de não ter uma vida ortodoxa.

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2019

Nome de árvore

Sentei-me debaixo de um carvalho antigo com ramos como os tentáculos de um polvo, decorado de uma invernosa camada de geada nas folhas. Sinto frio do tempo mas também de mim. Não me consigo apartar dos pensamentos que dominam a minha mente. Só o carvalho, meu confidente de ocasião, me dá um abrigo fazendo uma guarda de honra à minha pessoa.

Para quê

Para ser a sombra do pensamento que sustenta, embala e recolhe a dor. Quando sobram as lágrimas guardamos o excedente, vamos transformar todas em amuletos da sorte. Chorar faz bem, não nos disseram isso o suficiente, chorar faz bem, repito, chorar faz bem. Porquê essa lágrima escondida? Quando desabares quem te sustenta, embala e recolhe a dor ?

Fins de Noite, terceira parte

No silêncio da noite, amaram-se. Como nunca nenhum dos dois tinha feito até ali. Ele cheio de ânsia, força e admiração, ela com uma ponta de vergonha e esquiva… Passado tantos anos, como seria afinal nua? Quem a admiraria após tantas vidas passadas? Ele cheirava-a, e procurava cada poro da pele dela. Procurava a todo o custo recuperar o tempo perdido e amá-la muito, por inteiro. As vezes que fossem necessárias até a satisfazer. Ela aos poucos entregou-se, deixou-se envolver, esqueceu as convenções e viveu. Viveu muito e várias vezes. Pensou como é que podia ter chegado até aquele ponto da sua vida sem conhecer o amor daquela forma? Que homem era aquele, que afinal amava, mas nunca o soube? De repente um telefone toca, no bolso do casaco dele. Quem poderia ser àquela hora da noite?

Fins de Noite, segunda parte

Paty abriu a porta. No interior, por entre a luz da Lua que timidamente iluminava o seu apartamento, vislumbravam-se sombras e silhuetas, que se entrelaçavam com o corpo esbelto e atlético de Paty. Lucas não conseguiu deixar de reparar que a sua amiga envelhecera bem, ou melhor, nem tal havia acontecido, ao contrário dele, com mais uns quilos e menos cabelo.

Fins de Noite

Saiu do bar onde sempre bebia a sua margarita meio zonzo, talvez ofuscado pelo jogo de luzes e a rotação hipnótica da bola de espelhos. Cambaleando, procurando contrariar o funcionamento deficiente do seu sistema vestibular joga-se contra a parede procurando nela um apoio. Vocifera qualquer coisa entre dentes, estava zangado, agora diz que o Porto já não é o que era. Lembra-se da estrica que tinha com vinte e repete: “O Porto já não é o que era”. Segue o seu passo apressado sem saber bem qual o destino, quer perder-se na cidade. Percorre os aliados a pé, sobe em direcção aos clérigos e senta-se num qualquer banco do jardim da cordoaria a contemplar os transeuntes, tentando por meio telepático ler-lhes o pensamento. Observa casais estrangeiros com semblante fascinado a reparar na arquitectura da reitoria, observa as praxes que teimam em se fazer notar, observa os grupos mais ou menos coesos que divagam noite fora e por fim, sem que nada o fizesse prever, eis que surge alguém.

Lucas , sou eu a Paty, não me reconheces ?

Direitos Reais Sobre o infinito

Quando acordarmos deste sono profundo, desta sedação hipnótica que nos deixa o olhar preso ao infinito, subiremos ao céu. Talvez seja já tarde para que dessa viagem possamos tirar o máximo proveito. Talvez no nosso pousio de anos tenhamos perdido alguns pelo caminho. Mas nunca é tarde demais para ousar levantar voo, para ousar rir do destino, para siderar o medo e a descrença. Seja qual for a nossa bandeira, seja qual for o hino que nos arrebate, sejamos brancos ou pretos, amarelos ou vermelhos, homens ou mulheres, cães e gatos; ousem cumprir-se. E quando a vossa hora chegar, da alvorada ouvirem o chamamento, ousem reunir os vossos camaradas, os vossos irmãos, os vossos comuns para que da experiência também eles possam beber.

Quem me dera ter a tua idade e saber o que sei hoje

O que será que as pessoas querem dizer quando nos atiram com esta frase batida. Sou mesmo muito pequenino quando a estou a escutar, parece, ainda que por um momento, que estou na escola primária de paredes caiadas de branco a jogar matrecos com os meus amigos à espera de ir de seguida ver o batatoon em casa. Fico apenas expectante a tentar decifrar o que me estão a dizer. Quererão instigar-me a apressar a minha perda da inocência. Será que estão a pedir mais tempo , tempo para correrem atrás de si próprios e dos sonhos que vão deixando pelo caminho ?

Os segredos proibidos

“Quem ler estas palavras que queime este caderno para que nem as cinzas possam ser lidas” Assim se liam, pela última vez, as palavras de um Homem marcado pela guerra e suas feridas, marcado pelo sonho por realizar, marcado pelo secreto silêncio conspurcado apenas por um caderno, o seu confidente. Lá, através da sua dúctil caligrafia, ora escrevia, ora cantava, e outras vezes até, quando o peito apertava, gritava bem alto.

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2018

Sobre estar só

A solidão é como um pano invisível que nos envolve, bem apertado. Muitos passam por nós, levantam o olhar, até se preciso for esboçam o sorriso só de boca, enquanto o pano bem apertado no pescoço lhes rouba o fôlego.

Uma história de encantar

O mundo visível está decorado com as rosas mais vermelhas dos jardins. As menos vermelhas coitadas, não pertencem a este cenário ideal. São jogadas num canto, decapitadas e jogadas no lixo. Num casamento real por exemplo, não podemos ter rosas de segunda ou pessoas de quinta, temos a nata da nata, o mundo ajoelhado a um espectáculo que todos sabemos que é de plástico mas não deixamos de o apreciar.

Os homens não choram e Good Will Hunting

Quando penso em como definir sensibilidade masculina penso numa coisa tosca, assim como uma forma de arte naif. Como sabem, a Arte naïf caracteriza-se por ser executada por alguém sem uma educação formal em arte, contudo, não raras vezes se podem fazer agradáveis surpresas ao vasculhar por entre as diversas obras. Há uma espontaneidade sedutora neste tipo de obra que pode surgir como algo anti-canónico e disruptivo.

inFormalidades

Caro doutor, ou será engenheiro ? Pelo sim pelo não mais vale atirar um título não vá o diabo tecê-las.

Virtuoso do ócio

Nos dias em que me sinto mais afoito apetece-me sentar prostrado diante de um qualquer ecrã, ver um filme suficientemente americano, comer umas pipocas e não usar mais nada a ser um pijama velho e amarrotado. Diga ?! Pense mais alto, só consigo escutar sussurros indecifráveis do seu pensamento a reprovar a minha atitude. Imagino que seja algo como: “porque não fazes antes algo de produtivo”, “é isso que chamas criação de valor?” , ou até “a autonomia patrimonial e financeira deste indivíduo encontra-se em elevado risco de depreciação e desvalorização possivelmente conducente a um estado de insolvência dolosa”.

Portugal quem és tu ?

Há uns dois anos decorreu uma iniciativa chamada “Portugal, quem és tu ?” que colocava a debate o país na sua identidade e génese. Recordando esta iniciativa e a pergunta que lhe confere o título surgiu-me a ideia de pensar sobre este tema.

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2017

Uma Passagem de Ano mediana

Saio sempre à rua neste dia para me poder deleitar, que mais poderia eu fazer, o deleite acaba por ser algo obrigatório. No dia da passagem de ano não se vê viv’alma sem um portentoso sorriso de orelha a orelha, confesso que o acho excessivo afinal de contas é só mais uma volta ao sol que se assinala. Mas neste dia a nossa vocação para a festa é irreprimível, somos como que levados numa onda de euforia que contagia todos até os mais pacatos e taciturnos.

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