Da minha janela eu vejo a lua cheia e uma tela pintada a lápis lazuli. Vejo estrelas que parecem miragens. Vejo o reflexo da lua nas águas de um rio e ao perto uma árvore e depois a floresta. Deitado, enquanto me perco no infinito que o meu olhar alcança, penso.
Sou poeira cósmica, sei-o desde o tempo em que era um blastocisto. É por demais evidente a minha dimensão atómica diante do infinito. Cada paisagem suspensa que observo me parece um grito do universo vista daqui, do sítio onde todas as coisas acontecem.
Que acontecerá no escuro onde habita o nada? Onde as luzes do universo se apagam e onde o medo é rei e senhor ? Sei que vou conhecer esse escuro, talvez seja isso, a morte pode ser um mergulho num rio negro onde a luz entra para nunca mais de lá sair . Será que mergulhamos sabendo que o fazemos ou somos como que empurrados e lançados em queda livre. Quero prever esse momento, temo o descontrolo da situação. Peço misericórdia para que não me surrupiem a vida. Não me roubem o sopro , deixem-me escolher por favor. Na véspera, sentirei estertor ou a melhora da morte ? Serei capaz de dizer adeus, tenho a esperança que o silêncio te transmita aquilo que eu não conseguir transmitir por palavras. Talvez, quem sabe, esteja estampado na minha cara o desespero de não haver amanhã contigo, espero que não.
Quero o afago das minhas memórias ternas nesse momento, os sorrisos e até as lágrimas do passado. Não quero perder nenhuma… guardei todas as lágrimas num frasco de memórias para esse dia. Quando ouvir o chamamento quero ir de sorriso largo, quero sentir-me a adormecer num sono profundo fechar os olhos e deixar-me cair nos braços do destino. Quero fechar os olhos e dormir um sono sem sonhos. Se os houver só peço que sejam piedosos.
EXEUNT OMNES