Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

Categories

  • Saída

Consta que o cão de Freud era presença assídua nas suas consultas. Certo dia um dos seus analisandos Sándor Ferenczi, um psiquiatra renomado, conta que a meio de uma consulta o cão se levantou e arranhou de forma veemente a porta. Sem hesitação Freud levantou-se e abriu a porta para o cão poder sair. Perto do final da consulta, ouvia-se novamente o cão a arranhar a porta do consultório, desta vez do lado de fora. Freud novamente levantou-se de imediato para abrir a porta ao seu fiel amigo. Aproveitando a deixa do canídeo Freud disse algo deste género: “está a ver, o cão estava tão aborrecido pela sua resistência que decidiu sair, mas agora ele está de volta para lhe dar uma segunda chance.”

Este tipo de boutade personifica bem o que é o processo psicoterapêutico autêntico. Uma espécie de soro da verdade na relação terapêutica que parece elevar a discussão um outro patamar técnico e metodológico. Um processo mais humano e menos mecânico onde existe um respeito solene pelo fluxo natural da relação. Nestes casos há espontaneidade e uma criatividade inerente que abre portais de expressão emocional.

Nao me despeço da minha formação cartesiana cognitivo-comportamental, no entanto devo admitir que este desafio me fez questionar alguns cânones epistemológicos.

Sou apenas um aprendiz neste novo terreno movediço mas é precisamente essa a beleza desta filosofia autêntica, estar lado a lado a acompanhar alguém numa viagem. Quem sabe o que poderá estar ao virar da esquina.

“the therapist own self is a potent therapeutic device”.. Está mais que na altura de o usar.