Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

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Quando penso em como definir sensibilidade masculina penso numa coisa tosca, assim como uma forma de arte naif. Como sabem, a Arte naïf caracteriza-se por ser executada por alguém sem uma educação formal em arte, contudo, não raras vezes se podem fazer agradáveis surpresas ao vasculhar por entre as diversas obras. Há uma espontaneidade sedutora neste tipo de obra que pode surgir como algo anti-canónico e disruptivo.

A forma como um quadro destes nos pode chocar, é também a forma como um gesto e uma palavra inesperada e surpreendente nos podem fazer corar de vergonha, rir à gargalhada ou, partir de imediato para a violência. É assim que nós homens somos pintados muitas vezes, como primitivos, como seres que respondem a impulsos, pouco reflexivos. Não negando que o podemos ser, quero apenas dizer em nossa defesa que muitos de nós não têm também, à imagem dos artistas naïf, um método concreto e linear para lidar com emoções. Muitos de nós mesmo ainda em crianças não tiveram regaço onde encostar a cabeça para chorar. Não nos deixaram amolecer sem atalhar com um: “faz-te homem”, ou “os homens não choram”.

Na idade adulta, após anos deste processo de transformação granítico ficamos um pouco mais apartados do nosso lado mais emocional, daí que seja natural que este lado por vezes possa surgir pulsante. Pode não nos ser fácil domar o que sentimos, pode inclusive ser-nos imperceptível o que sentimos. Apesar de tudo isto importa lembrar que somos encantadores, estejamos aninhados em posição fetal no sofá depois da derrota do nosso clube do coração ou a ingerir a barragem do alvão em cerveja. Sei que podem não parecer as formas canónicas de se lidar com a tristeza, mas é preciso lembrar que muitos de nós somos actores da sua própria depressão, como se tivéssemos que dar voz a um outro eu.

Apesar do tom justificativo, não pretendo pedir desculpa em nome dos homens. Pretendo sim que este texto seja laudatório das diferenças e semelhanças entre nós e as mulheres. Que percebam que por vezes também temos medo de baratas e que também gostamos de anatomia de grey. Ao mesmo tempo, achamos de facto hilariante um flato de um amigo ou a observação do seu bolo alimentar antes da deglutição definitiva. Até Shakespeare, titular de uma obra invejável, devia rir à gargalhada quando por debaixo das calças acolchoadas os seus amigos soltavam um flato comprometedor. Apesar disso ,e se calhar, permitam o devaneio, até por isso construiu a sua obra.

Deixo-vos com um trecho do filme Good Will Hunting no qual Matt Damon (Will) personifica bem esta noção que nos caracteriza tantas vezes, o bom tipo de rebelde, a sensibilidade caótica que se vai aprendendo a domar. Neste trecho através da relação com o seu psicólogo Robbin Williams, Matt Damon vai descobrindo cada vez mais acerca desta sensibilidade.