O título é bastante sugestivo bem sei, parece daqueles ensaios filosóficos que levaram o autor à loucura, quem sabe até a abraçar cavalos. Nota filosófica: Frederich Nietzche, filósofo alemão, é protagonista de um episódio célebre denominado o cavalo de turim em que decide dar afecto a um equídeo italiano, se calhar como gratidão por este contribuir para a fertilização do solo italiano. Diz-se que esse episódio terá sido eventualmente o ultimo momento lúcido de Nietzche antes de se afundar numa demência que lhe terá roubado a sanidade, como aliás é habitual nas demências.
Pois este gesto carinhoso perpetrado por Nietzche, ou melhor, a falta de mais gestos como estes são a razão de ser deste texto. Tenho observado, do alto da minha notável experiência em observar acontecimentos, conto com 28 anos disto, que nos últimos anos desafortunadamente, cada vez mais pessoas estão a viver dentro de uma bolha. Talvez seja só uma observação inoportuna, mas permitam-me o devaneio.
Hoje por exemplo noto que se foi tornando uma prática comum o acto de sacar do telemóvel a meio de toda e qualquer conversa. Não quero entrar desde já num saudosismo do estilo, “no meu tempo é que era”, nem me atrevo a desconsiderar as vantagens que o smartphone proporciona, contudo não deixa de ser uma mudança acentuada a que eu noto. Exactamente a partir de quando é que deixou de ser uma falta de educação sacar do telemóvel a meio de uma conversa ? Talvez a partir do momento em que a prática se massificou, não escolhendo idades ou estratos sociais. Por um lado compreendo que com o número de solicitações a que as pessoas estão sujeitas diariamente seja difícil dar resposta a tudo e possa existir essa tentação de estar em vários locais em simultâneo. Todavia, sendo essa hipótese fisicamente impossível, pelo menos para já, esta situação deixa-nos perante uma certa incerteza na preferência, isto é, ficamos permanentemente a duvidar se teremos feito a escolha certa ao estar com a Maria e não com o Manuel. Este é o princípio fundador daquilo a que um Psicólogo americano (Barry Swartz) chamou o paradoxo da escolha, a insatisfação granjeada pela escolha quando o número de alternativas é muito elevado. Pensemos no menu do restaurante se tivermos dois pratos, um de carne e um de peixe, podemos errar apenas por um prato. No entanto, se tivermos trinta e dois pratos, podemos ter 31 escolhas melhores do que a nossa. No meio de tantas escolhas se calhar peço ajuda ao empregado, pode ser que assim consiga uma recomendação privilegiada. Se isso não funcionar aproveito para fazer uma dieta paleo e comer uma plantas selvagens.
Bem agora que já vos macei com as minhas inquietações está na hora de regressar à minha bolha onde estarei entretido a tirar selfies e a fazer swipe de instastories com o meu macbook imaginário e um gato siamês no regaço.
Tiago Gonçalves