Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

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  • Solidão

A solidão é como um pano invisível que nos envolve, bem apertado. Muitos passam por nós, levantam o olhar, até se preciso for esboçam o sorriso só de boca, enquanto o pano bem apertado no pescoço lhes rouba o fôlego.

Quando o desatamos, ficamos nus e desprotegidos, mas finalmente a nossa pele passa a poder ser tocada e envolvida num abraço cúmplice. Podemos namorar a nossa companhia, namorar a vida e o espaço onde as coisas acontecem. Talvez sejamos felizes, talvez fiquemos convencidos mesmo que a vida pode ser virtuosa para connosco. Contudo, sabemos que as coisas não irão durar para sempre. Talvez seja o nosso fado, a nossa sina, algo que nos diz que a vertigem e a atracção magnética do abismo de estarmos sós é mais forte. Estamos sós de novo, desta vez não é novo, resta-nos esperar que o tempo seja piedoso e que a vida nos sorria de novo, quem sabe com um sorriso que nos envolve e nos transporta.

Eu estou sozinho, mas não quero chegar à idade dos maduros e dizer “sou sozinho”, como ouço os velhotes dizerem. Estar não é o mesmo que ser, mas de alguma forma eles confundem-se. Poder-me-ei eu confundir também ? Dizer sou e não, estou?

O tempo piedoso dirá, o tempo em que me amarro nesse pano para que possa de novo ser desembrulhado como se de um presente me tratasse. Para ser redescoberto, para surpreender e premiar.