Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

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  • Reflexão

O mundo visível está decorado com as rosas mais vermelhas dos jardins. As menos vermelhas coitadas, não pertencem a este cenário ideal. São jogadas num canto, decapitadas e jogadas no lixo. Num casamento real por exemplo, não podemos ter rosas de segunda ou pessoas de quinta, temos a nata da nata, o mundo ajoelhado a um espectáculo que todos sabemos que é de plástico mas não deixamos de o apreciar.

E quantos de nós não quererão um bocadinho disso, não quererão também ter as rosas mais vermelhas do jardim. E qual é o mal perguntar-se-ia ? Qual é o mal ? Nenhum, dir-se-ia nenhum mal. É uma escolha legítima, mas para que a escolha seja feita de forma mais avisada temos que ir um pouco mais dentro da flor.

Se excluimos à partida as flores aparentemente menos vermelhas podemos nem sequer chegar a sentir-lhes o mais intenso perfume primaveril ou a suavidade do toque apesar dos espinhos.
Somos assim, este ser insaciável, sempre à procura de brechas estéticas para nos lançarmos no abismo da busca infinita da perfeição. Procurando febrilmente pequenas imperfeições para atirar com rótulos.

Manifesto o meu desagrado com este estado de coisas, apetece-me apreciar o imperfeito e digo-o com brio. Tal como este texto também eu sou orgulhosamente imperfeito.