“Quem ler estas palavras que queime este caderno para que nem as cinzas possam ser lidas” Assim se liam, pela última vez, as palavras de um Homem marcado pela guerra e suas feridas, marcado pelo sonho por realizar, marcado pelo secreto silêncio conspurcado apenas por um caderno, o seu confidente. Lá, através da sua dúctil caligrafia, ora escrevia, ora cantava, e outras vezes até, quando o peito apertava, gritava bem alto.
Sem guardar nada para amanhã, extinguindo-se no papel, rematava o epitáfio : “ Finalmente livre, finalmente livre, agradeço a Deus todo poderoso, estou finalmente livre”. Não se lhe conhece a face oculta ou as lembranças pesadas, tão pesadas como o peso da morte que nos projecta em direcção ao chão para nunca, repito, nunca mais nos levantarmos. Talvez nunca se conheça o que realmente foi, porque pertence ao silêncio, porque pertence a um tempo que não este. Dou por mim a pensar -Quem sabe… , admito desafiá-lo e contar a sua história. -E se o fizesse ?!
-Quantas seriam as setas apontadas ao meu peito ? A quem daria o privilégio da sua vida? -Talvez se arrefecesse as palavras, se as comprimisse e as tocasse. Talvez aí fosse possível transmitir o que me contaram…