O sacrifício certo
Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

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Para que se possa alcançar uma transformação significativa nas nossas vidas temos de estar dispostos ao perder de algo igualmente valioso, isto é, estruturante para nós. Temos de estar dispostos a deixar uma parte de nós “morrer” para que outra possa tomar o seu lugar. A título de exemplo, para que possamos evoluir em termos morais e éticos temos de deixar morrer uma certa imagem de virtude que previamente podia ocupar lugar de destaque na forma como percecionamos a nossa identidade. Se estivermos cegos ou ofuscados pela nossa virtude, dificilmente conseguiremos ver além da mesma, dificilmente conseguiremos reconhecer a nossa sombra. Tomando consciência da nossa perversidade e malevolência podemos corrigir e lutar por uma transformação que seja virtuosa na nossa vida.

Esta ideia parece bem ilustrada no conceito de sacrifício. Reparei que esta palavra, “sacrifício”, tinha uma má fama como algo que se faz a contra gosto, eventualmente algo que é feito desnecessariamente. Depois de meditar sobre o assunto concluí que não é assim, que o sacrifício pode e deve ser voluntário. Passo a explicar, podemos ter consciência do que estamos a sacrificar e do porquê se isso faz parte do nosso caminho para alcançar um bem maior na nossa vida. Apenas este sacrifício consciente, de algo valioso nos pode permitir alcançar uma recompensa proporcional. Quantas vezes na nossa vida teremos tentado fintar o sacrifício, procurar fazer apenas metade do que se quer inteiro ? Certamente muitas e o resultado parece invariavelmente o mesmo, uma recompensa também ela incompleta.

Na história bíblica de Caim e Abel, dois irmãos, fruto da relação de Adão e Eva o sacrifício é um dos temas principais da história. Ambos fizeram um sacrifício a Deus na forma de oferenda, tendo Caim oferecido frutos do bosque e Abel oferecido primícias e gordura do seu rebanho. Um destes sacrifícios, o de Abel, agradou a Deus ao passo que o outro, o de Caim, não. Deus passou a tratar Abel como o seu filho favorito sendo este considerado um homem bom adorado por todos ao contrário de Caim que havia sido rejeitado por Deus. Caim protesta com Deus e expressa o seu ressentimento em relação á situação. Sentindo ciúmes do seu irmão, Caim decide armar-lhe uma embocada e assassina-lo. Caim assassina o seu ídolo, o seu irmão, e simultaneamente pratica uma afronta a Deus. Assim desperta a ira de Deus que o castigou condenando-o a ser errante pelo mundo.

Nesta história uma das ideias-chave parece ser o conceito do sacrifício certo, de que apenas abrindo mão de algo verdadeiramente valioso para nós conseguimos cativar a bondade de Deus, isto é, da vida. Caim tentou esquivar-se ao sacrifício, algo que é inevitável, e assim permitiu que o ressentimento com a vida germinasse dentro de si. Procurou vingança e não assumiu responsabilidade pelas suas opções. Isto conduziu-o à mais profunda destruição do seu caráter como pode acontecer quando rejeitamos qualquer tipo de sacrifício. Por outro lado temos em Abel o caminho para a transformação virtuosa da vida. Tendo entregue algo valioso ganhou a graça da vida sendo recompensado com a carinho de todos.

Indo mais longe peguemos no exemplo de Jesus que se sujeita ao mais profundo sacrifício, dando a sua própria vida, para operar a mais profunda transformação a ressurreição e a criação de um novo tempo.

Temos vários exemplos de como o sacrifício certo pode ser virtuoso. A nossa missão será então a de escolher qual será o nosso sacrifício, o que vamos entregar á vida para operar a nossa própria transformação.

The idea is that you could sacrifice something of value, and that would  have transcendent utility.

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