Responsabilidade como antídoto para o ressentimento.
Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

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Um dos melhores antídotos para o ressentimento e a mágoa, sentimentos tantas vezes destrutivos na nossa vida, é a responsabilidade. A toma da responsabilidade permite-nos analisar a nossa vida não apenas na perspetiva do observador mas também na perspetiva do ator, isto é, da pessoa que toma decisões e exerce ação sobre a realidade. Por responsabilidade entenda-se, a capacidade para chamar a nós mesmos o ónus da criação das circunstâncias em que vivemos através das decisões que tomamos. Desta forma, o mundo em que vivemos, as experiências e relações que temos, os sentimentos que nutrimos são nossa responsabilidade.

Esta ideia ou mentalidade tem os seus méritos, nomeadamente o de devolver ao individuo algum tipo de controlo sobre as suas circunstâncias. Assim está criada a oportunidade para a pessoa definir os seus objetivos e chamar a si a responsabilidade para lutar por eles. Para que isso aconteça uma determinada ideia terá forçosamente que ver a sua influência limitada, neste caso falo da ideia de que somos vítimas das circunstâncias e da vida pela traição e tragédia que todos experimentamos. A influência desta ideia deve ser limitada para que a responsabilidade possa tomar o seu lugar como ideia central na construção percetiva da realidade. Contudo, importa ressalvar que esta ideia de responsabilidade opera num paradoxo, isto é, apesar da sua utilidade como catalisador de ação comprometida com objetivos valorizados a ideia tem limitações na medida em que nem tudo o que nos acontece depende da nossa ação, há um elemento de espontaneidade imprevisível e desconhecida que nos oferece possibilidades independentemente da nossa ação.

Como podemos responsabilizar-nos por um sonho, desastre natural, ou a doença autoimune de um filho ? Neste caso é difícil tomar a responsabilidade por um processo que nos parece totalmente estranho, desligado da nossa ação. No entanto, importa ressalvar que apesar desta limitação a responsabilidade talvez seja a melhor resposta para que na vida nos possamos sentir construtores de realidade e fazedores de significado e sendo assim, quanto maior o grau de responsabilidade que estamos dispostos a tomar maior o potencial para construir algo verdadeiramente valioso para nós mesmos e para os outros.

Como podemos então convidar a responsabilidade a fazer parte das nossas ferramentas a usar para construir a realidade? Uma boa forma de começar seria a de tentar definir de forma mais clara os nossos objetivos e o ego ideal. Para definição dos objetivos podemos colocar algumas questões:

  • Desejamos uma relação estável, a longo prazo e intima?
  • Como usar o tempo de forma significativa e produtiva fora do local de trabalho?
  • O que valorizamos mais na nossa vida?

Estas são apenas alguns exemplos de questões que nos podem ajudar a definir objetivos. Uma vez definidos estes objetivos importa perceber que ações realizamos que nos afastam da concretização ou compromisso com os mesmos, aqui tomamos desde logo consciência das nossas limitações e podemos desenvolver a humildade como uma espécie de subproduto da responsabilidade. Apenas chamando a nós mesmos a responsabilidade pela criação de algo tomamos verdadeiramente consciência das nossas limitações nessa criação. Esta conclusão consolida a importância da responsabilidade e visa diretamente a apologia da vitimização que assim limita a sua influência. Um outro passo passará por definir o ego ideal, isto é, definir o conjunto de atitudes e comportamentos que consideramos serem ideais para nos orientar. O que fazemos de facto em determinada situação e o que seria ideal fazer-se em dada circusntância. Nesta conjetura reside muitas vezes um hiato entre o que fazemos e o que deveríamos fazer, é aqui portanto que podemos convidar a responsabilidade a guiar a nossa ação em direção ao ideal.

Um outra ideia importante parece ser a de grau de responsabilidade, isto é, quanta responsabilidade estamos dispostos a tomar em dado momento. Pode ser que em determinado momento seja mais difícil tomar total responsabilidade por determinada circunstância, no entanto creio que a alternativa não deva ser nenhuma responsabilidade.

Jordan Peterson, Psicólogo Canadiano insta os seus leitores a limpar o quarto pois crê que este fenómeno pode ser o bom princípio para a toma de responsabilidade. O Psicólogo pergunta, como estarão as pessoas equipadas para mudar o mundo, como tantas vezes protestamos de formar magoada, se não conseguimos mudar a nós mesmos. Neste contexto o autor utiliza a imagem de limpar o quarto como exemplo, o princípio da responsabilidade pode começar com algo tão pequeno como limpar o quarto para dar início à ação comprometida com um objetivo valorizado, organizar o mundo. Desta forma, creio que podemos começar com algo simples, qualquer gesto ou atitude que melhore de alguma forma o caos existente e prosseguir de forma incremental.

Dr Jordan B Peterson on Twitter: "Rule IV from my new book Beyond Order:12  More Rules for Life: Notice that opportunity lurks where responsibility has  been abdicated. Illustrated by Juliette Fogra See

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