O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard diz-nos numa passagem da sua obra que o Homem tudo fez para tornar a sua vida mais fácil. Construiu caminhos de ferro, autocarros, barcos, o telégrafo e muitas outras invenções que tornaram a nossa existência neste planeta mais fácil. Em desespero e envergonhado por não conseguir tornar algo mais fácil do que já é, Kierkegaard descobre o seu lema. A sua missão seria então tornar as coisas mais difíceis, encontrar dificuldades em toda a parte. Porque teria este desígnio o filósofo ?
Numa sociedade onde impera a gratificação imediata, na qual a preferência temporal recai muito mais sobre a dopamina instantânea, a dificuldade tem pouco ou nenhum lugar. A inexistência de montanhas, vulgo dificuldades, faz de nós maus escaladores.
As montanhas não são escaladas pelo intenso prazer físico que é escalar-se uma montanha, são escaladas no plano real mas com um intuito psicológico. Esse ganho secundário de ordem psicológica pode representar simbolicamente para quem escala muito mais que o simples ato ou efeito de realizar um esforço físico intensivo, pode representar a superação, a conquista e a disciplina mental. Na dificuldade da escalada descobrimos competências e conquistamos simultaneamente a montanha e também a nós mesmos.
Por isso defendo a dificuldade como parteira da história de cada um, como janela de oportunidade para aguçar o engenho e afinar a nossa maquinaria mental. Na dificuldade nascem soluções para a vida e formas audazes de construir e criar significado.
Espero que um dia possamos voltar a escrever cartas precisamente porque é mais difícil e leva mais tempo, espero que possamos voltar a ler também porque é difícil encontrar o tempo e a paciência, e espero que possamos aceitar desafios à nossa inteligência especialmente por serem difíceis.
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