Sentei-me debaixo de um carvalho antigo com ramos como os tentáculos de um polvo, decorado de uma invernosa camada de geada nas folhas. Sinto frio do tempo mas também de mim. Não me consigo apartar dos pensamentos que dominam a minha mente. Só o carvalho, meu confidente de ocasião, me dá um abrigo fazendo uma guarda de honra à minha pessoa.
As pessoas já não se sentam debaixo de carvalhos, as pessoas já não se sentam nos bancos do jardim num espaço de ociosidade no qual apenas olham dentro. Não há tempo, dirão os mais apressados que se deslocam em passo rápido, correndo para a morte que temos todos como certa. Por vezes, prefiro o silêncio bucólico de uma árvore aos ruídos estridentes dos humanos nas suas constantes sabotagens pessoais.
Sonho como gostava de ser uma árvore. Podia abrigar quem me procurasse com puro altruísmo. Não pedia nada da pessoa, absolutamente nada e, ainda assim, há quem abrace as árvores. Talvez recebesse um abraço cúmplice de quando em vez. Como homenagem talvez ainda tivesse a sorte de que o meu nome fosse usado para nomear alguma família. Podia ser uma Pereira, um Pinheiro, uma Oliveira, um Carvalho, ou até uma Figueira. Pergunto-me como começou esta tradição dos apelidos serem nomes de árvores. Se calhar porque se quer que perdurem no tempo como as árvores. Também as terras têm a mesma sorte, eu sou de uma terra com nome de árvore, Oliveira do Arda. A julgar pelas homenagens diria que as árvores estão mais no nosso imaginário do que pensava, talvez também eu tivesse essa chance.
Despeço-me solenemente olhando para cima tentando alcançar a copa com o olhar e reparo o quão pequeno sou diante de uma árvore tão grande. Procuro na árvore uma resposta e tudo o que me oferece é silêncio e a sua presença imponente diante da minha insignificante existência.