Uma frase que serve de epítome ao absolutismo moral e sanitário que vivemos no qual a sombra do autoritarismo já se faz notar de forma incidiente.
Dir-se-á que é por um bem maior , para salvar vidas, para evitar a morte. Como qualquer tese suficientemente persuasiva existirá alguma raiz de verdade no que é dito, certamente que ninguém no seu perfeito juízo quer contrair uma doença, quer perder um familiar, quer ser portador do mal que poderá condenar o outro.
Aqui, na consideração moral do dever social, se constrói a base de apoio que permite as sucessivas perversões que marginalizam a verdade, o debate e a liberdade individual, tudo porque sobrevêm um “bem maior” definido com base na propaganda da ciência medíocre incapaz de suster a lógica e a coerência.
Já emiti juízos morais absolutamente perversos a propósito da pandemia, julguei moralmente quem “desrespeitava as medidas de contenção” presumindo ter um melhor entendimento da situação e tomar consciência da forma perversa como o fiz faz-me duvidar de mim mesmo e pensar em como pode ser fácil cair na armadilha do autoritarismo, onde a exclusão social de quem questiona a narrativa dominante é chave como nos diz o brilhante e muito atual trabalho de Hanna Arendt. O controlo autoritário faz-se silenciando as vozes dissonantes que por agora confere o título de “negacionaistas e chalupas” a pessoas outrora previdentes. Colocando o título de conspiracionista poupamo-nos ao laborioso trabalho mental de analisar de forma relflexiva os seus argumentos, deixando apenas que a heurística do título nos guie. Certamente que como todas as causas, também a liberdade terá advogados menos preparados e instruídos, isso não deve no entanto servir de desculpa para não fazermos uma reflexão sobre tudo o que se está a passar.
Preocupa-me a clivagem moral que está a dividir a sociedade, os bons e os maus do nosso tempo, aqueles que cumprem com a imposição da autoridade e aqueles que dela duvidam. Fujo do absoluto moral e da “verdade científica absoluta” na boca de políticos com parca ou nula formação epistemológica, pois entendo que a ciência é fabricada no questionamento e não na imposição.
Nos dias que correm ter uma posição dissonante confere direitos limitados de participação social, confere a impossibilidade de viajar, circular livremente, de frequentar vários espaços públicos fechados e em casos cada vez menos excecionais de trabalhar. Podemos considerar que é por um bem maior, mas consideremos simultaneamente a nossa prepotência e arrogância em julgarmos que podemos definir o conceito de bem maior e que temos o controlo e autoridade para o implementar, colocando esse conceito em oposição à liberdade individual sem que esse desígnio surja de um debate público extensivo.
A nossa saída da crise pandémica passará sempre pelo debate e pelo diálogo e não pelo globalismo autoritário. A crise terminará quando usarmos do dever de questionar, de não pactuar com sucessivos abusos à liberdade individual, quando aceitarmos que corremos riscos mas que não dependemos de nenhuma autoridade moral para nos prescrever uma realidade à medida das nossas inseguranças e por outro lado quando conseguirmos refundar a ciência para que esta volte a ser o palco do debate de ideias e para que seja mais do que apenas um trabalho, uma vocação.
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