Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

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  • Monólogo

Para ser a sombra do pensamento que sustenta, embala e recolhe a dor. Quando sobram as lágrimas guardamos o excedente, vamos transformar todas em amuletos da sorte. Chorar faz bem, não nos disseram isso o suficiente, chorar faz bem, repito, chorar faz bem. Porquê essa lágrima escondida? Quando desabares quem te sustenta, embala e recolhe a dor ?

Quero cuidar de ti, quero que me sintas sempre presente. Não me olhes dessa forma, não voltes as costas a ti mesmo. Os teus olhos são os meus e, no entanto, não vemos o mesmo. Estamos entretidos a transformar a luz em significado mas sempre chegando a conclusões diferentes.

Os olhos nunca crescem, têm sempre do mesmo tamanho desde o dia em que nascemos, sabias? Eu sei que tu não sabias. Eu sei tudo o que tu sabes e mais. Talvez esse mais que me ilude seja o que me atraiçoa, mas o mesmo que me eleva e me dá sonhos candentes.

Porque mudou tanto a nossa visão ? Fizemos uma viagem em total embriaguez e agora olhamos para trás, para o passado, o nevoeiro teima em não se levantar. Pois que se levante porque está na hora. Vamos desabar por aí abaixo, procurar o precipício mais alto e deixar-nos cair em voo livre.

Acreditas que podemos renascer depois da queda? Confia em mim, sobreviveremos à tristeza e a todos os cânticos negros que nos dirigem. Consegues ouvi-los ? Não percas tempo a tentar perceber esses cânticos, são fados de outros tempos. Dos tempos idos nos quais cantavam a nossa morte, juntavam um punhado de flores numa placa de mármore com o nosso nome. Agora o nosso nome é outro, baptizamo-nos de novo.

Quando te acariciar o pescoço e te disser que te quero, confia em mim só mais uma vez. Vou estender os meus braços, quero que te deixes cair nos meus braços.