Portugal quem és tu ?
Tiago Gonçalves
Tiago Gonçalves

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Há uns dois anos decorreu uma iniciativa chamada “Portugal, quem és tu ?” que colocava a debate o país na sua identidade e génese. Recordando esta iniciativa e a pergunta que lhe confere o título surgiu-me a ideia de pensar sobre este tema.

Muitas figuras se dedicaram a fazer uma profunda reflexão sobre o tema, apenas para citar algumas sublinho: José Mattoso, José Hermano Saraiva, e Miguel Esteves Cardoso. Julgo que com nomes destes a constarem no catálogo das personalidades que se dedicaram à diagnose do nosso país, a minha reflexão será sempre incipiente, contudo não me abstenho de a fazer, salvaguardando o meu diletantismo nestes temas e a amplitude temática que pressupõe a pergunta. Avancemos portanto com a certeza do insucesso, mas a segurança da tentativa. Na esfera mediática internacional, atrevo-me a adivinhar que somos conhecidos como aquela aldeia à beira mar plantada onde nasceu Cristiano Ronaldo. Antes de Cristiano, para muitos, seriamos apenas e só mais uma província de Espanha com uma apetência ligeiramente diferente para a deglutição de peixe demolhado e ultracongelado, sim, já adivinharam, estou a falar do nosso querido bacalhau.

Tenho amigos, de outras partes do mundo que me dizem: “Portugal é o país do sol, dos pastéis de nata, do fado, da religião…”; eu, concordando com eles, atrevo-me a desafiá-los a mais, a verem além da imagem de colónia de férias onde gostam de dar uns mergulhos, e deslumbrar-se com os nossos monumentos. A verem a forma esforçada como tentamos bem receber e a capitalização que fazemos de tudo o que vem de fora. Parece algo subserviente por vezes, como alguém que recebe visitas numa casa humilde e se esforça por enriquecer a experiência. Temos telhados que pingam sim, mas tudo revestido a talha dourada. Somos este e outros contrastes, somos muita coisa que nos enobrece e nos envergonha.

Visto de dentro, pelos portugueses, o nosso país é sempre alvo de uma incessante crítica onde continuamente identificamos os defeitos. Está sempre mais gordo ou demasiado magro. Lá de fora, ainda pelos portugueses, Portugal é o último reduto, o abrigo nuclear que nos guarda em tempo de apocalipse e trememos a ouvir o hino nos jogos de futebol.

Somos progressistas até às últimas consequências, sem o sabermos antes de nos sabotarem já nos sabotamos a nós próprios. Dispensamos a ajuda do estrangeiro para nos dissuadir de sonhar, temos um velho do restelo em cada esquina.

Em termos económicos o nosso país é, a meu ver, a figura do rapaz mais gordo e anafado que no recreio da escola é sempre o último a ser escolhido para o jogo de futebol, uma vez que, não nos dá garantias de conseguir ter uma contribuição positiva nas contas do jogo. Considero todavia que neste capítulo, estamos a receber um aumento de crédito, tendo em conta feitos como a saída do “lixo” em termos de rating e a eleição do nosso Cristiano Ronaldo das Finanças (Mário Centeno) para presidente do Eurogrupo.

Agora e nestes últimos tempos, sinto que estamos a mudar ligeiramente. Ao experimentarmos a glória de ter vencido certames como a eurovisão e o campeonato da Europa, parecemos ufanar um bocadinho. Esta vaidade é merecida e foi conquistada com muito suor. Por isso e sem mais delongas remato esta reflexão com um pedido já tantas vezes repetido: ousemos sonhar ! Não sei se levantaremos do chão os egrégios avós, ou sequer se lhes daremos motivos de orgulho mas é sempre tempo de cuidar da nossa casa e a apresentar com brio português.

Tiago Gonçalves

13/01/2018